Thursday, November 10, 2016

 

O Regresso dos Estados Nação?

Um texto de Jacques Sapir que nos ajuda a reflectir sobre o que está a mudar: "Em geral, esta eleição baralha as cartas também para a União Europeia. Não é por acaso que o antigo Primeiro-Ministro italiano, Enrico Letta, diz que se trata do acontecimento mais importante depois da queda do muro de Berlim. As elites europeístas perderam um apoio decisivo na presidência americana, e isso sente-se tanto nas reacções de Juncker e Tusk, como nas de Angela Merkel ou François Hollande. Pelo contrário, as personalidades políticas que contestam este europeísmo, de Nigel Farage a Beppe Grillo, passando por Marine Le Pen, rejubilam com esta vitória de Donald Trump. Evidentemente, vai-se tentar entoar o famoso hino à Europa federal e procurar-se-á reavivar as chamas quase extintas da integração europeia. Porém, as divisões entre os Estados da UE não vão desaparecer por magia. Os interesses destes Estados vão permanecer como estão, opostos a qualquer integração. Vai mesmo ser preciso, mais tarde ou mais cedo, reconhecer as implicações disto e voltar à política das Nações o que, aliás, não exclui a cooperação e a amizade entre essas mesmas Nações. Se recusarem isto, os dirigentes europeístas assumem o risco de agravar a raiva que também cresce na União Europeia. Os atropelos à democracia foram demasiado numerosos e demasiado sistemáticos. Estes dirigentes correm o risco de conhecer, à sua escala e nas suas condições, a sorte de Hillary Clinton. Mas é pouco provável que compreendam que mudámos de época, decerto não por ter ocorrido esta eleição presidencial que é apenas mais um elemento da mudança, mas sobretudo porque vivemos hoje, e desde há dez anos, o grande regresso das Nações. Não há nada mais dramático do que ver as elites, sejam elas políticas ou culturais, agarrarem-se a uma visão do mundo que a realidade ultrapassou e desmentiu. Durante algum tempo, podemos viver numa bolha. Mas, num dado momento, esta bolha rebenta e vai ser preciso pagar caro o preço desse mundo de ilusões que foi construído." ************************************************************************************************************** Actualização em 18-12-2016(a propósito da tão badalada pós verdade na sequência da eleição de Trump): "O espetáculo em redor da palavra “pós-verdade” chega a ser cómico. Anda tudo indignado com as narrativas de Trump, que são imunes à verdade. Mas deixem-me fazer uma pergunta: onde é que andaram nas últimas décadas? O pós-verdade tem sido o ofício da esquerda pós-moderna. Desde os anos 60, a pós-modernidade não tem feito outra coisa senão destruir o conceito de verdade através de um relativismo epistemológico, moral e cultural. O pós-verdade tem sido o ar que respiramos. O vento apenas mudou de direção. No desrespeito pela verdade, a direita de Trump é idêntica à esquerda pós-moderna que nos apascentou nas últimas décadas." Henrique Raposo no jornal Expresso de 17-12-2016

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